Felizmente, ainda há homens assim…
Acreditem que ao longo dos meus 46 anos de vida, já
conheci e convivi com muita pessoas, dos mais variados quadrantes e condições,
alguns apenas “simples mortais” outros com elevados níveis de talento para as
mais variadas áreas artísticas ou culturais.
É minha convicção que o talento é um dom que não pode
estar sozinho num indivíduo. Com ele tem forçosamente de co-habitar um carácter
íntegro e humano, que contenha dentro de parâmetros “socialmente aceitáveis” a
natural vaidade e até narcisismo, que o talento acaba por produzir ao seu
detentor.
Em muitos dos “génios” que conheço, o talento impôs-se
ao carácter e acabaram por ser pessoas intratáveis e intragáveis, sem amigos ou
admiradores sinceros, permanentemente rodeados de bajuladores que apenas os
acompanham na esperança de favores ou de absorverem um pouco do brilho social e
mediático que irradiam.
Conheço há pouco mais de um ano o Mestre H. Mourato.
Estava no Quartel dos Bombeiros da Pontinha, quando ele me foi apresentado por
outro amigo comum. Tinha, na simplicidade e generosidade dos grandes homens,
ido ao quartel para oferecer aos bombeiros, uma escultura sua.
Portanto, primeiro conheci o Henrique Mourato. Sou daqueles
para quem a primeira impressão conta e sem querer ser comparado a alguém
famoso, direi que nestas coisas do carácter "raramente me engano". E,
gostei logo daquele homem grande, de ar íntegro e sereno. O convívio futuro
mostrou que a primeira impressão não era falsa.
Depois
conheci o H. Mourato, ou seja o artista que o homem também é. E os trabalhos
que saem daquelas mãos - quer a escultura, quer a pintura - estão de acordo com
a ideia que se tem da pessoa.
Desde que o conheço, tenho convivido regularmente com
ele e pouco a pouco vou descobrindo as suas obras e as várias vertentes do seu
talento.
Quando em Fevereiro deste ano me meti na aventura de
criar um jornal on-line, H. Mourato estendeu-me a sua grande mão e ofereceu
para logótipo o seu quadro do “Velho Mirante”, um ex-libris da Pontinha, por
ele magistralmente retratado.
E não hesitou em juntar o seu nome a um projecto sem
provas dadas, apenas pela amizade que nos ligava, mostrando ser amigo do seu
amigo. Todas as semanas o meu jornal apresenta, com a devida autorização do seu
autor, uma obra de H. Mourato, que está também sempre disponível para aquele
favor que às vezes os amigos precisam que lhe façam.
É verdade que H. Mourato não é capa de revista, nem
notícia regular de televisão. Mas não é porque não tenha talento e “obra feita”
e devidamente reconhecida. É apenas porque H. Mourato não se vende e mantém a
sua coerência e convicções.
Tenho a certeza que um dia H. Mourato vai ter muitas
“honras” mediáticas. Na hipocrisia deste país algumas pessoas incómodas só são
boas quando já não podem incomodar, porque partiram. Assim sendo espero que por
muitos e longos anos o brilho mediático esteja afastado deste meu amigo.
Pontinha, 13 de Maio de 2004
Henrique Ribeiro
Director “Coisas da Pontinha”