IMAGINÁRIO
DE H.MOURATO
O mundo das cores
ainda carece de luz, são só e simplesmente cores, ainda não sublimadas pelo'raio
mais feliz das auroras. Mas há cores e há pintores, há os que pintam as cores e
os que fazem novas tonalidades com as imagens de uma razão que só eles (ou não) pressentem que
existe. Tudo é real na bizarra atmosfera do mais insólito dos pintores. A natureza não
corrige a vida, é a arte que tem esse responsável e sublime papel.
Henrique Mourato vai
para além daquilo que poderíamos chamar um pintor, ele antevê na sua tela
dimensões tão insólitas quanto possíveis, num mundo que se transforma cada vez mais por
fora e que acrescenta algo que ninguém estava à espera.
Quando o seu
imaginário brota, ficamos sem saber se ele isto já sabe, ou se alguma força outra o
escolheu para a representar.
É com amor que falo do seu duro ofício de
missionário porque o é, porque transporta o
bizarro e o patético com uma leveza e relatividade de quem por saber já não
precisa chocar. Casa contrastes, brinca com o sério, é bucólico e futurista, e
parece não se importar com esta
miscínização. Esta pintura tem o segredo da Arca de Noé, a embarcação leva tudo, mas só alguns a sabem conduzir.
Poderia ser um
grande físico se não fosse artista, assim como o é, as suas leis estão certas,
como a mais conseguida equação de matéria-espaço, e põe-na a funcionar, aí,
onde não
morrem os sonhos das esferas do grande imaginário!
AMÉLIA VIEIRA